e agora o silêncio!
a madrugada foi cúmplice dos teus lábios nos meus, brotando
mel.
e agora este silêncio.
as minhas mãos em forma de concha, vagabundeiam ao luar,
querendo apanhar a luz retraída que a lua penetrando por entre as frinchas da
janela entreaberta, embirra em repartir ocultamente sobre o teu corpo
adormecido.
e agora o silencio.
lá fora a alvorada rompe para mais um dia metamorfoseado em
dialecto de gestos inactivos. talvez vá chover, nunca te disse que gosto de
sentir a chuva cair sobre a minha pele. não disse tanta coisa. não te digo
tanta coisa. nem sequer que me magoa este silêncio.
o teu corpo sossegado, sorri, talvez navegue agora num sonho
feito um rio de pétalas desordenadas no leito que te ampara.
vou embora!
e agora?! que faço do silêncio!
©Piedade Araújo Sol,
in Poiesis,pag 157