O Palácio do Rei do Lixo, também conhecido como a Torre de Coina, ou Palácio da Bruxa, está situado na freguesia da Coina, Barreiro, sendo bem visível da estrada nacional n.º 10. Trata-se de um local misterioso e repleto de lendas urbanas que se perpetuaram no tempo sem que, nos dias de hoje, se saiba ao certo de são verdade ou mentira. O certo é que esta imponente torre salta facilmente à vista e desperta a curiosidade e o imaginário de quem com ela se depara.
A quinta onde se encontra o palácio foi propriedade rural, no século XVIII, de D. Joaquim de Pina Manique, irmão do intendente de D. Maria I, Diogo Inácio Pina Manique. A propriedade foi depois adquirida, no século XIX, por Manuel Martins Gomes Júnior, comerciante de Santo António da Charneca, que em 1910 mandou construir o palácio, diz-se, para que “conseguisse avistar a propriedade que possuía em Alcácer do Sal”.
Manuel Martins Gomes Júnior era conhecido como o “Rei do Lixo”, devido ao exclusivo que tinha para a recolha dos detritos da cidade de Lisboa, e tendo feito fortuna a comprar e vender lixo. Profundamente ateu, Manuel Gomes Júnior transformou a ermida da propriedade em armazém e estábulo e baptizou a herdade de “Quinta do Inferno”. Posteriormente, e através de António Zanolete Ramada Curto, genro do “Rei do Lixo”, a propriedade tornou-se numa importante casa agrícola.
Em 1957, foi vendida aos grandes proprietários e industriais de curtumes Joaquim Baptista Mota e António Baptista, que constituíram a Sociedade Agrícola da Quinta de S. Vicente e transformaram a propriedade numa importante exploração pomícola.
Manuel Martins Gomes Júnior e a sua família nunca habitaram esta Quinta da Torre (por as suas obras terem sido interrompidas cerca de 1913-1914, deixando o imóvel incompleto), mas o facto de tê-la adquirido e lhe imposto o aspecto realengo imponente como espécie de memória póstuma do primitivo pouso cujo donatário estava ligado à Casa Real, sendo também ele “rei” (do lixo) por certo quis ter um palácio condigno com tal título, ou melhor, alcunha, que os mais desaforados de Coina também apodavam de “porco sujo”. Com isso descurava-se o óbvio da sua intenção: contribuir para a higiene pública da capital então frágil em cultura profiláctica, ao mesmo tempo que a sua perspicácia empresarial via nisso uma forma gratuita de aumentar a sua riqueza.
Diz a vox populi que foi a sua vingança republicana sobre o regime monárquico, pousando no lugar dos antigos cortesãos lixo e porcos. À propriedade rebaptizou-a com o novo e inquietante nome de Quinta do Inferno, com a sua Torre do Diabo que mandou fazer em 1910, dizendo-se que transformou a capela da quinta em armazém e estábulo (sendo certo que em 1906 abriu uma escola dotada na mesma que ofereceu à educação gratuita dos seus empregados e filhos), e às suas fragatas transformadas em arrastos do lixo deu-lhes os nomes de Mafarrico, Mefistófeles,Demo, Diabo, Satanás, Belzebu, Horrífico, Caronte, Plutão, Averno e outros mais mimosamente escolhidos para chocar a conservadora e católica flora. Por certo tratou-se de uma provocação desaforada ao regime eclesiástico secular que a recente Revolução de 5 de Outubro depusera, mas com isso ficou até hoje com fama de ateu anti-deísta impenitente dotado de um feitio irregular e pouco afectivo.
Fonte do texto :https://www.vortexmag.net/a-incrivel-historia-do-palacio-do-rei-do-lixo/
OBS: As fotos não são de boa qualidade pois foram cpatadas da estrada nacional e com o carro em andamento.